Luiza Grings

Caia na real & Caia no real -Notas e reflexões Psicanalíticas

Em mais um lampejo de curiosidade pelo psíquico, escutei uma palestra hoje no Youtube que recomendo muito: “Caia no real: a arte de viver sem expectativas”, do Dr. Lucas Nápoli (psicólogo e psicanalista) que achei muitíssimo interessante. Acabei tomando nota de muitos pontos bem marcantes sobre a psicanálise e alguns autores e filósofos citados na palestra.

Freud (Lê-se Fróid) Sigmund Freud foi um neurologista e psiquiatra austríaco. Ele foi o criador da psicanálise e uma das personalidades mais influentes da história no campo da psicologia.

Ele acreditava que muito do que vivemos (crenças, emoções, impulsos) surgem a partir de nosso inconsciente e não é perceptível pela mente consciente. Um exemplo são as lembranças traumáticas, que podem ficar “apagadas” da memória, mas que seguem ativas sem sabermos e podem reaparecer em certas circunstâncias.

No início da carreira de Freud, ele atendia muito a mulheres, as quais apresentavam “histeria”, um quadro na época atribuído às mulheres (apesar de alguns homens possuírem quadros semelhantes). Diferente de todos os demais que menosprezavam os sintomas das mulheres (sintomas físicos inexplicáveis do ponto de vista da medicina), Freud passou a ouvir elas.

Através da mente consciente obtinha poucas respostas, mas através dos seus processos de hipnose conseguia acessar o inconsciente, que logo revela o motivo do sintoma físico. A mulher com um olho que não enxergava mais (sem motivos médicos explicáveis), apresenta tal sintoma como uma resposta a um sentimento que ela reprimiu (em uma discussão com o marido, foi agredida e teve de se manter submissa sem poder reagir). Mesmo não reagindo, ela não conseguiu aceitar aquilo em seu interior, e isso se externalizou como sintoma, sem que ela entendesse isso conscientemente.

A partir de vários outros estudos e casos, Freud compreendeu que somos seres divididos entre consciente e inconsciente, sendo o inconsciente muito mais poderoso e influente em nossas vidas do que poderíamos imaginar.

Um exemplo são pessoas que acabam se envolvendo em relacionamentos tóxicos e não entendem o porquê, ou pessoas que vivem repetindo situações, como se fosse uma auto sabotagem de cunho inconsciente.

E as doenças emocionais, tem, segundo Freud, na raiz de seu problema o motivo de querer conciliar tudo. Quando se é incongruente, ambíguo, e se quer duas coisas opostas. Ou seja, as pessoas começam a adoecer psicologicamente quando elas têm determinados desejos e impulsos, querem satisfazer os mesmos, mas ao mesmo tempo querem viver uma vida que não é compatível com esses desejos e impulsos. Na época de Freud os desejos que as pessoas mais reprimiam eram os desejos sexuais (nem elas próprias reconheciam isso), de modo que queriam satisfazer esses desejos, mas conscientemente queriam viver uma vida politicamente/moralmente correta. Isso é a origem da neurose de acordo com Freud.

Portanto, a ambiguidade está na raiz do nosso sofrimento.

Ao longo da história, o ser humano, que se achava um semi deus, descobriu 3 grandes duras verdades que ferem nosso natural narcisismo:
– a terra gira em torno do céu e não é o centro do universo;
– nós evoluímos pelos mesmos processos de seres vivos que eram considerados “inferiores”;
– o eu não é senhor na sua própria casa (o seu inconsciente tem um grande poder sobre você).

Mas o inconsciente não é problema só dos neuróticos? Onde está o inconsciente?

Uma das formas pelas quais o nosso inconsciente “fala conosco” é através dos sonhos. Outra forma é através dos atos falhos (erros, falhas, esquecimentos, troca de nomes, falar palavras trocadas). Nossas escolhas (ou não escolhas) também são reflexos de processos internos. Muitas vezes conscientemente criamos justificativas, mas possivelmente a maior motivação daquela decisão esteja “oculta”. Nada é exatamente ao acaso.

E como se compreender melhor? Como não ser “trapaceado” pelo inconsciente?

Através de auto conhecimento. O que não significa exatamente introspecção.
Friedrich Nietzsche, foi um filósofo, crítico cultural e importante intelectual do século XIX (19). Ele defende a ideia do autoconhecimento através da auto observação: “torna-te quem tu és”. Ou seja, reconheça sua situação atual, observe suas decisões e o porquê você as toma.

Sócrates dizia: “conhece-te a ti mesmo”.

Para isso é fundamental deixar de observar tanto as outras pessoas (com amor e ódio, de modo julgador, especulativo), para passar a exercer a auto observação, que consiste em observar um pouco mais sobre certas decisões, reações, pensamentos em si mesmo. De onde eles vêm?

A terapia pode ser uma ótima ferramenta. Assim como é o autoconhecimento.

Tudo é testemunha do nosso ser (nossos amigos, inimigos, nosso aperto de mão, a lembrança ou esquecimento, o modo de escrever…). Mas o mais importante: o que você realmente amou até hoje? O que tomou conta de sua alma deixando-a feliz?
Quando foi realmente feliz? Em que momento se sentiu de fato entusiasmado? Quando disse: “vale a pena viver!” ?
Não fazemos esse exercício pois ficamos muito focados nos ideais, na demanda do outro: o que eu tenho que ser, o que eu tenho que atingir, onde devo morar.

Todos esses auto questionamentos, são essenciais para compreender-se. Em especial os nossos amores e os nossos erros, pois assim estabelecemos um modo de diálogo com o inconsciente (sendo menos pegos de surpresa).

E o que é amor?

Segundo Benedicto de Espinosa, “Amor é a alegria que você experimenta causada por uma coisa que está fora de você”. Seja pessoas, objetos, situações.
“Alegria significa aumento de potência de agir.” O que motiva, o que faz expandir.
Se sentir potente = sentir alegria

O que aumenta sua potência de agir?

Alegria não é o mesmo que prazer. Há coisas que dão prazer mas reduzem sua potência de agir. Escolha coisas que aumentem sua potência!
– Revise seus afetos, observe o que te afeta. Porque você gosta ou não gosta de algo?
– Você tem sido fiel a seus gostos reais ou se adapta para se encaixar com os ideais dos demais?
– Observe como cada tipo de tarefa te afeta positiva ou negativamente.

Como você pode ser feliz sem que o mundo precise mudar? Como ser feliz na realidade atual?

Observe como a situação te afeta. Nietzsche diz: “Torna-te quem tu és”. Comece a amar o que está acontecendo com você agora, sua realidade atual.
Compreenda que quanto maiores as expectativas são, maiores as desilusões.
Frustrações, arrependimentos (remorsos), desejo que o mundo fosse diferente, ficar remoendo o passado: tudo isso só gera sofrimento.

Ao invés disso, afirme a situação presente. Reconheça a situação atual.

Você não nasceu se adaptando, você nasceu se expandindo (sendo curioso e corajoso: saiu do útero, aprendeu a caminhar, a falar, a andar de bicicleta).

“Torna-te quem tu és” não é sobre resignar-se, adaptar-se ao mundo. É sobre reconhecer o mundo do modo que ele é e expandir-se e não conformar-se, adaptando-se aos outros, aos padrões que estão fora de si.

A expansão é a tendência básica e natural que habita em todos nós, e é chamada por Nietzsche de “vontade de potencia”, e por Espinosa de “potência de agir”. Quando se vive apenas adaptando-se e conformando-se com os outros, a nossa potência de agir geralmente vai para algum lugar… um lugar chamado de ressentimento. “Há 10 anos eu odeio meu casamento, odeio meu trabalho, mas não tem o que fazer, é isso mesmo”.

Quanto menor nossa expansão, maior nosso ressentimento. A pessoa quer que o mundo mude, mas não quer precisar mudar. Vive frustrada, ressentida e de modo reativo.

Por fim, é importante equilibrar o planejamento (de expandir-se, de buscar sua potência) e a flexibilidade para lidar com o acaso.
Saiba que a vida não tem como ser controlada completamente.
Afirme a existência do acaso, mas não deixe sua vida dependente dele a lá “deixa a vida me levar”.

Fique feliz mesmo triste (Espinosa, Nietzsche e Paulo di Tarso):
Nietzsche : Amor fati (amor ao destino), nada a querer diferente. Estou triste com essa situação mas amo-a pois ela faz parte da minha história.

Aguentar os defeitos é a condição necessária para você gozar das qualidades. Ou seja, você ama também os defeitos

Compreender algo ruim, um acidente, um imprevisto como algo que tinha que acontecer (sem ficar revirando ele, remoendo, pensando se nao tivesse acontecido) faz com que o sofrimento seja muito menor.

Um dos grandes problemas contemporâneos é querer estar vivo e não sofrer. À medida que se está vivo, se vai passar por dores, sofrimentos e problemas, e é preciso entender a importância deles.

Paulo de Tarso diz: “Aprendi a arranjar-me em qualquer situação. Aprendi a viver na penúria e aprendi a viver na abundância; estou acostumado a toda e qualquer situação: viver saciado e passar fome, ter abundância e passar necessidade. Tudo posso nAquele que me fortalece.

Não se trata de religião, mas de aceitar o que se é agora, e se for de desejo mudar, planejar sua expansão considerando o acaso e o inesperado como parte da jornada natural.

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