Luiza Grings

As limitações que atrapalham nossas vida

Recentemente fiz a leitura de um livro que comprei em um sebo: Pare de se sabotar e dê a volta por cima, de Flip Flippen. Parecia autoajuda, seu sei. E é. Mas é interessante pois nos pega em pontos frágeis, ou então nos remete a pessoas em nossas trajetórias.

O livro é sobre como identificar e modificar comportamentos que atrapalham a sua vida (e sua evolução) tanto pessoal quanto profissional. Flip Flippen é psicoterapeuta, consultor de carreiras e presidente do The Flippen Group, que trabalha com grandes organizações e pessoas há mais de 30 anos.

Ele inicia indicando a importância de compreender as limitações pessoais. Há três grupos de limitações:
-Inconsequentes (que são muito específicas e geralmente tem impacto mínimo, ex.: não ter senso estético e trabalhar com algo que não requer esse senso)
-Delegáveis (você delega/contrata alguém para realizar por você)
-Intransferíveis (são características que só cabe a você resolver, e são as que mais impactam na sua vida)

São as limitações intransferíveis que são aprofundadas no livro, elas influenciam tanto nossa vida pessoal quanto profissional, e é a partir da identificação e enfrentamento delas que se inicia um processo de mudança. Uma dica importante é que as limitações pessoais estão atreladas a tarefas, portanto uma característica pode ser positiva ou negativa, dependendo do contexto. Por exemplo: Um professor com comportamento agressivo (não significa ser violento nesse caso) pode ser muito mais efetivo sendo técnico de futebol do que dando aulas de química.

Após compreender o impacto das limitações pessoais em nossas vidas, é o momento de identificá-las. Quais são as limitações pessoais que existem? Após muitos anos de estudo e trabalho prático, Flip chegou aos 10 principais, às quais descrevi em primeira pessoa, deixando registrado alguns pontos positivos e os a melhorar:

1 A prova de balas (excessivamente confiante)
“Tenho dificuldade de admitir um erro, assim como para ouvir ou aceitar opinião dos outros e sou teimosa. E odiei admitir isso.”
Positivo: É confiante, segura e independente.
A melhorar: Ser mais flexível ouvindo verdadeiramente e buscando compreender o ponto de vista das outras pessoas. Deixar de ter tanta teimosia (se policiar), dar espaço e incentivar outras pessoas, pedir mais a opinião das pessoas mesmo aquelas com diferentes visões.

2 Ostra (pouco autoconfiante)
“Gostaria de ser mais confiante. Hesito, me importo muito com o que os outros irão pensar de mim, e é difícil deixar meus erros para trás.”
Positivo: é modesta, sensível, companheira.
A melhorar: Assumir e se lembrar dos seus pontos fortes, substituir os pensamentos negativos/destrutivos sobre si mesmo por coisas mais positivas/construtivas, não se apegar a falhas e erros, evitar sentimentos de culpa. Buscar autoafirmação, valorizando mais a si, e menos o que os outros irão pensar. Não se apegar ao “incentivo/aprovação” externa, e sim a sua autovalorização.

3 Docinho de coco (superprotetor)
“Dizer não é muito difícil, assim como eu dizer o que penso de verdade. Acabo assumindo muitas tarefas e fico desgastada.”
Positivo: atenciosa, encorajadora, positiva e companheira.
A melhorar: Impor limites, cobrar das pessoas que sejam responsáveis. Passar a dizer não em momentos adequados, não se sobrecarregando, ser mais firme em minhas posições. Dizer o que pensa com mais frequência (sendo diplomático), mas podendo confrontar as pessoas e cobrando atitudes justas/corretas.

4 Crítico (exigente, implicante ou rude demais)
“Sou exigente comigo mesma, assim como com os demais. Sou cética com ideias e opiniões, julgo, crítico e guardo os “erros” das pessoas.”
Positivo: atenta, exigente e vê oportunidades para melhorar.
A melhorar: Parar de reclamar tanto, deixar de ser tão exigente com os demais e deixar as expectativas mais realistas. Parar de dar tanta opinião sobre algo que ninguém pediu e ouvir mais os demais. Ser mais receptivo, flexível, amigável em comentários e em postura. Deixar de alfinetar as pessoas ou usar sarcasmo: se tiver algum problema buscar resolver educada e assertivamente.

5 Iceberg (pouco afável)
“As pessoas acham difícil me entender, não tenho relacionamentos muito profundos como os demais. Para mim é difícil expressar afeto e emoção.”
Positivo: não se envolve em sentimentalismos desnecessários, não deixa que os relacionamentos a façam esquecer outras prioridades.
A melhorar: Interagir mais com as pessoas, cumprimentá-las com entusiasmo e sorrindo. Conversar amigavelmente com as pessoas, amigos, familiares, tentando sinceramente ouvir mais sobre a vida delas. Não temer aprofundar um pouco os relacionamentos com as pessoas.

6 Catatônico (paixão, visão ou vigor baixos)
“Preciso me esforçar muito para me motivar, protelo muito minhas tarefas. Tenho um jeito descansado de ser (que às vezes é mal interpretado pelas pessoas).”
Positivo: é agradável e descontraída.
A melhorar: Buscar ser mais disciplinado, recompensando-se apenas após a conclusão de tarefas. Administrar e gerir melhor seu tempo, buscar cumprir prazos e caso veja que não conseguirá, pedir apoio a pessoas que possam ajudar, buscando sugestões de como agilizar o processo. Alinhar valores pessoais e expectativas para que tenha um trabalho pelo qual sinta paixão.

7 Rolo compressor (excessivamente dominante)
“Gosto de estar no controle, tenho opiniões firmes, as pessoas acham que eu não escuto ninguém. Eu costumo completar as falas das pessoas.”
Positivo: é decidida, determinada e preparada para ser líder.
A melhorar: Dar mais espaço para outros quando estiver interagindo em grupo, deixar as pessoas falarem e se propor a ouvir, fazendo perguntas em caso de dúvidas. Deixar um pouco o controle de lado e observar mais. Pedir feedback às pessoas para saber se foi um bom ouvinte.

8 Tartaruga (resistente a mudanças)
“Mudanças e incerteza me dão nervosismo, tenho dificuldade para mudar de rumo, prefiro abordagens testadas e aprovadas, não gosto de correr riscos.”
Positivo: valoriza a continuidade e preza a estabilidade.
A melhorar: Buscar aceitar ideias novas, ter primeiras reações o mais positivas possível, mesmo que diga que precisará de um tempinho para decidir sobre algo. Passar a experimentar coisas novas com maior frequência. Exercitar a flexibilidade. Fazer as coisas de modo diferente de vez em quando.

9 Vulcão (agressivo, raivoso)
Não levo desaforo para casa, sempre dou a última palavra. Mexe com minhas emoções quando me desafiam, e me frusto facilmente com as pessoas.
Positivo: competitiva e luta por suas opiniões.
A melhorar: Deixar de usar expressões para “derrotar” às pessoas em discussões, evitar entrar em discussões muito acaloradas ou exaltadas (sair para tomar um ar, tomar uma água). Não tentar ser o que tem a palavra final, sendo apenas assertivo ao expressar quando concorda ou não, e aprender a pedir desculpas e/ou admitir seus erros.

10 Rápido no gatilho (pouco autocontrole, impulsivo)
“Aprecio a espontaneidade, tomo decisões rapidamente, e me entedio facilmente.”
Positivo: é adaptável, criativo e age depressa.
A melhorar: Parar de interromper as pessoas, ficar um pouco mais em silêncio ouvindo os demais. Começar e finalizar as tarefas, prezando pela conclusão delas antes de iniciar novas. Deixar de agir por impulso e deixar de envolver as pessoas precocemente às ideias que me vem à cabeça. Esperar as ideias maturarem mais antes de expô-las. Ter paciência e responder perguntas difíceis sobre a ideia que surgerir às pessoas.

Cada limitação, de acordo Flip, pede um plano de TrAção (transformação + ação), e todas são detalhadas no livro, com histórias e exemplos, mas nos itens acima busquei fazer um breve resumo de algumas das sugestões dadas.

Cada limitação tem suas características e as pessoas podem apresentar várias limitações, mas, segundo o autor, é importante identificar uma ou duas principais, no máximo, de modo a trabalhar elas primeiro para depois seguir para as demais.

Nesse processo é sempre interessante ter pessoas de confiança para as quais pedir apoio para fazer uma avaliação e acompanhamento de sua evolução. Muitas pessoas podem ficar relutantes em identificar um ponto fraco em si mesmas, mas isso pode fazer toda diferença para o sucesso e realização pessoal. Busque por feedback de pessoas de confiança, amigos, familiares, colegas de trabalho e ouça, genuinamente, o que lhe trazem.
Considere também ter acompanhamento de algum profissional (como um terapeuta) para entender seu funcionamento de modo mais profundo.

Observe-se e (se quiser), inicie as mudanças!

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