A leitura de um dos capítulos do livro de Robert Leahy (Vença a depressão antes que ela vença você, Capitulo 4, pág 77) foi muito importante para entender um pouco mais sobre o funcionamento da mente, e em especial, ver a depressão com um outro olhar, observando algumas de suas armadilhas, e assim, reunindo ferramentas e recursos para evitá-las e superá las. O capítulo é bastante potente, por isso, a leitura completa é essencial e já ficará na minha lista.
Esse é um resumo que fiz a partir da leitura, que explica muito sobre a autocrítica e a crença de fracasso. **Mas atenção, isso é apenas uma postagem de estudo e não substitui a consulta ou acompanhamento de um profissional de saúde mental.
Segundo o autor, a autocrítica é uma peça central na depressão de muitas pessoas. Elas podem ficar aprisionadas em um ciclo vicioso e destrutivo, onde tanto a crítica pode acionar a depressão, assim como sentir-se deprimido pode acionar a crítica. Muito do pensamento autocrítico está baseado no pensamento negativo distorcido sobre si mesmo, em que a pessoa foca apenas em aspectos negativos, por menores que sejam, ampliando-os de modo a receber toda a atenção.
Algo dá errado, algum erro ou equívoco é cometido e a pessoa não consegue parar de pensar sobre aquilo, se sente um fracasso, acha que será vista como idiota e por aí vai. Entram em cena os pensamentos de ruminação e autocrítica que apenas fazem a pessoa se sentir inferior e deprimida.
Mesmo quando a situação não é de controle da pessoa, mesmo o menor erro ou imperfeição, é motivo para ela se culpar, se criticar, odiar a si mesma e se rotular. “É tudo minha culpa”. “Sou muito idiota.” “Eu não me suporto.” “Não consigo escolher nada certo.”
O autor traz algumas das formas da autocrítica:
• Ruminação: Fico pensando repetidamente sobre como estraguei as coisas.• Comparações injustas: Fico me comparando às pessoas que têm mais sucesso e não me sinto à sua altura.
• Não consegue desfrutar das atividades: Quando faço algo, não consigo me divertir porque estou pensando constantemente no quanto estou indo mal.
• Indecisão: Não consigo tomar decisões porque não tenho confiança em mim.
• Medo de arrependimento: Não consigo fazer mudanças na minha vida porque, se não derem certo, vou me arrepender.
• Impotência: É difícil fazer qualquer coisa porque eu simplesmente não acho que algo que faça vá mudar a situação.
• Isolamento: Tenho muita dificuldade em ficar perto das pessoas porque acho que não tenho nada a oferecer.
• Medo de intimidade: Tenho medo de me envolver em um relacionamento porque depois de realmente me conhecer, as pessoas irão me rejeitar.
• Tristeza: Estou triste e abatido porque não me sinto bem comigo mesmo.
A autocrítica é uma droga! Mas, a boa notícia é de que é sim possível superá-la, e isso pode se estender para a melhora dos outros sintomas da depressão como a falta de esperança, a indecisão, o isolamento e a ruminação.
Para começar a mudança é preciso entender o problema e identificá-lo. Escute a voz interna que lhe critica, rastreie como surge, como ela vem. Anote o que ela lhe diz, e perceba “aí está a vozinha”.
O que os seus conceitos autocríticos significam para você? O que você realmente está querendo dizer?
A autocrítica pode vir de conceitos bastante distorcidos que temos sobre algumas coisas. É preciso parar um momento e refletir sobre esses conceitos. Por exemplo, a pessoa se considera um perdedor.
O que é ser um perdedor? O que é fracasso? Qual o oposto disso?
De onde vem tal definição para si mesmo? Tem algum ciclo vicioso aí?
“Se você baseia a sua autocrítica em não se sentir confiante, então está preso em um círculo vicioso. Você está dizendo a si mesmo: Sou autocrítico porque não me sinto confiante, e não tenho confiança porque sou autocrítico. É como se estivesse se criticando porque não tem confiança. Não parece que você, na verdade, está se criticando por se criticar?”
Examine as evidências:
“Quando você baseia a sua autoestima em ‘ser confiante’, está usando uma distorção do pensamento que denominamos raciocínio emocional” […] “É como dizer que me sinto mal porque me sinto mal. Não há saída. Você pode se sentir mal, mas ainda fazer algumas coisas que valem a pena. Isso não é possível?”
A depressão faz com que a pessoa foque muito mais nos aspectos negativos e ignore todos os seus aspectos positivos. A visão se torna tendenciosa e não considera o quanto as evidências são válidas. A grande questão é conseguir perceber que você não é o pensamento destrutivo, apesar de ele poder estar “presente”.
A autocrítica não ajuda em nada, diferente do que pode-se pensar de início, ela não nos motiva, ela nos deixa imóveis ou tristes. Pense sobre os prós e contras, pense em como você falaria com um amigo sobre um problema semelhante. É preciso olhar todos os fatos, não só para os negativos. Com isso é possível até mesmo encarar a autocrítica como irrealista.
Isso, no entanto, não significa ser “acomodado”, que você vai baixar a guarda e se transformar numa pessoa super confiante “sem noção”. Porém, pense: se a autocrítica fosse boa, não traria tantos sentimentos ruins, não é mesmo? Há um caminho do meio, um caminho de maior equilíbrio para nossa mente.
Inicia com o estabelecimento de padrões
Podemos compreender que há um fundo de verdade em uma crença, porém, o que é necessário é definir (de modo realista!) alguns padrões e metas para que diariamente, em pequenas etapas, possamos alcançar o estabelecido.
Troque a autocrítica pela autogratificação
Algo que pode ser muito desafiador quando se está deprimido, porém, esse comportamento é muitíssimo importante, mesmo que seja com mínimas e pequenas coisas. Alguns exemplos são: celebrar quando algo vai bem, falar algo positivo sobre si, dar-se um mimo ou algo que goste após uma tarefa “chata”. Imaginar-se celebrando ou feliz também é válido!
O autor sugere que se faça uma lista de declarações autrogratificadoras, como por exemplo:
“Que bom para mim. Eu tentei. Estou fazendo progresso. Fiz alguma coisa. Eu estou avançando em direção aos meus objetivos, estou me saindo melhor do que antes. Eu me esforcei muito, e isso é bom.”
A autocorreção
Não se trata de ficar dizendo mantras ou repetindo que “sou maravilhoso e perfeito”, e sim, buscar criar alternativas e modos para solucionar o seu problema. A ruminação e crítica não ajudam em nada. O que pode ajudar é buscar entender o erro de modo honesto, e assim, agir e trabalhar para corrigir a passividade e o isolamento que a sua autocrítica estava alimentando.
Segundo o autor, em vez de criticar-se, pergunte-se o seguinte:
• Existe uma maneira melhor de fazer isso?
• O que eu posso aprender?
• Quem faz isso melhor – e como eu posso aprender?
Inverta os papéis
Imagine-se sendo crítico como é consigo mesmo para com outras pessoas. Você seria tão duro? Por que se é mais gentil com os outros que consigo mesmo?
Você pode querer ainda colocar padrões altíssimos para ser superior às outras pessoas, porém isso pode ser um problema pois só sentirá que poderá ser gentil consigo mesmo quando fizer algo excepcional. Por que quer ser o melhor? Por que o perfeccionismo?
Avalie sua avaliação, observe e aceite
Procure observar como você se avalia. Não se preocupe se faz isso bem, apenas tome conhecimento da frequência com que se envolve na autoavaliação.
Quando um pensamento surgir, você irá observá-lo, reconhecê-lo: estou tendo um pensamento negativo. Ele está aqui neste momento. Ao invés de querer se livrar dele ou se irritar, você pode dizer “aí está a vozinha de novo”. Acolha o pensamento, aceitando-o presente, mas seguindo suas tarefas, observando a vida real acontecendo na sua frente.
“Talvez você ache que não está na sua melhor forma, talvez pense que não está fazendo o melhor trabalho em seu emprego e talvez tenha certeza de que a sua vida poderia ser melhor. Em vez de se criticar porque as coisas não estão como gostaria que estivessem, você pode apenas observar que é assim que elas são neste momento. As coisas não são como poderiam ser. Elas poderiam ser melhores. Mas você reconhece que agora tem uma escolha. Eu posso me criticar ou observar e aceitar as coisas como elas são. Se você se aceitar como é, acabará conseguindo se voltar a uma nova direção. Mas caso se critique e se odeie, estará parando no meio do caminho. Em vez de se comparar com algum padrão, diga a si mesmo: Sou quem eu sou.”
Conforme diz o autor, crie novas “regras” para si:
• Se cometo um erro, me dou conta de que é porque sou humano.
• Posso aprender com os erros.
• Eu deveria me tratar tão bem quanto trato os outros.
• Eu deveria me dar crédito por tudo de positivo que faço.
Pensamento distorcido
Os “pensamentos negativos automáticos” são padrões de pensamentos distorcidos e estão associados a sentir-se deprimido ou ansioso, e ficam aparecendo na sua mente sem o seu controle.
Os mais associados a autocrítica são: desvalorizar os aspectos positivos (ignorar as coisas boas), filtrar o negativo (ver apenas o aspecto negativo e não vê os positivos), pensamento do tipo tudo-ou-nada (você está em 0 ou 100%, não em algum lugar entre ambos), rotular (você se rotula baseado em informações limitadas) e super generalizar (você toma um incidente e o leva para a sua vida inteira).
É preciso avaliar o que tem fundamento na realidade e o que é distorção de pensamento.
Crença sobre si mesmo
Cada pessoa tem uma crença central sobre si mesmo. Quando se está deprimido, porém, ela é excessivamente negativa. É como uma lente embaçada através da qual você vê o mundo, e ela te leva a usar as distorções de pensamento específicas que sustentam a sua visão negativa.
Suas crenças centrais negativas, distorções do pensamento e regras mentais negativas (mal-adaptativas) trabalham em conjunto para manter e reforçar sua perspectiva negativa sobre si mesmo. Por exemplo, se sua crença é a de que é incompetente, você pode acabar pensando que estraga tudo e que tudo o que faz de positivo não tem valor.
Uma forma de mudar sua crença central é fazer um experimento mental. Simplesmente assuma que você é uma pessoa de valor e competente. Depois imagine como alguém com essa crença positiva responderia. Assim, você pode experimentar uma “mente” diferente. Experimente ser positivo consigo mesmo. Você pode se surpreender ao constatar que pode mudar seus pensamentos negativos distorcidos, suas crenças e suas regras ao longo do caminho.
Humanize seus erros
“Foi o grande poeta inglês Alexander Pope quem disse: “Errar é humano, perdoar é divino”.
Imagine se você aplicasse isso a si mesmo.
Todos nós cometemos erros e continuaremos a cometê-los no futuro. Cometemos erros porque não somos deuses, somos humanos. Ainda estamos aprendendo. Mas quando você se critica por cometer erros, está agindo como se devesse ser maior e melhor do que todo o resto de nós. Se todos nós cometemos erros, então você deveria se juntar a nós e cometer alguns erros também.”
E por fim, veja as coisas como uma curva de aprendizagem
Nos às vezes falhamos, fazemos escolhas erradas, algo idiota ou cometemos erros com às pessoas. Sempre que erramos aprendemos algo, temos uma nova informação, aprendemos o que não funciona. O que é importante é: o que se faz com essa informação?
A grande questão não é cometer erros, é aprender com eles. Os erros criam oportunidades porque o ajudam a fechar uma porta – a porta errada – para abrir novas portas para novos objetivos e novo comportamento.
Fonte: Vença a depressão antes que ela vença você – Robert Leahy, Capitulo 4, páginas 77 a 101.
Vença a depressão antes que ela vença você [recurso eletrônico] / Robert L. Leahy ; tradução: Sandra Maria Mallmann da Rosa ; revisão técnica: Bernard Rangé. – Porto Alegre : Artmed, 2015. e-PUB.
Mais informações sobre:
www.CognitiveTherapyNYC.com.
Você também pode acessar o blog “Anxiety Files” em: www.PsychologyToday.com